ATA DA OITAVA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 24.04.1997.

 


Aos vinte e quatro dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e sete, reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e quarenta minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor João Carlos D'Ávila Paixão Cortes, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 150/96 (Processo nº 2416/96), de autoria do Vereador Elói Guimarães. Compuseram a Mesa: o Vereador Clovis Ilgenfritz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor José Fortunati, Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Antônio Augusto Fagundes, Presidente da Fundação Gaúcha de Tradição e Folclore, representando o Governador do Estado do Rio Grande do Sul; o Major Francisco Carlos Freitas, representando o Comando Geral da Brigada Militar; o Coronel Mário César Fagundes Gomes, representando o Comando Militar do Sul; o Senhor Bruno Neher, Deputado Estadual/RS; o Senhor João Carlos D'Ávila Paixão Cortes, Homenageado; os Vereadores Reginaldo Pujol e Elói Guimarães, respectivamente, 2º Vice-Presidente da Casa e proponente da solenidade. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à execução do Hino Nacional. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Aristides Gonçalves, que declamou a poesia "Chama Crioula Cinqüentenária", de sua autoria. Na oportunidade, o Senhor Presidente informou que o grupo de dança "Os Tropeiros", do 35 - Centro de Tradições Gaúchas, apresentou-se no início desta Sessão para recepcionar o Homenageado. Logo após, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Elói Guimarães, como proponente e em nome das Bancadas do PDT, PTB, PMDB, PPS e PSB, saudou o Homenageado, discorrendo sobre sua trajetória em prol da preservação e difusão da cultura e do tradicionalismo gaúcho. Ainda, registrou a presença, no Plenário, da cantora Fátima Gimenez. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, elogiou o trabalho do Senhor João Carlos D'Ávila Paixão Cortes na defesa da arte gaúcha, discorrendo sobre a força do homem rio-grandense e lembrando, em especial, trechos da trilogia "O Tempo e o Vento", do escritor Érico Veríssimo. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, ressaltou a justeza da escolha feita pelo Vereador Elói Guimarães para concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, congratulando-se com o Homenageado pela sua contribuição ao engrandecimento cultural da sociedade gaúcha. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, disse que o Senhor João Carlos D'Ávila Paixão  Cortes  transformou-se em um emblema da cultura gaúcha, simbolizando uma vida marcada pela "paixão pelas coisas da nossa terra, pelas coisas do nosso Rio Grande". O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, lembrando o movimento "Chama Crioula", enalteceu o carisma e o profissionalismo do Homenageado, congratulando-se com Sua Senhoria pelo Título hoje concedido pela Casa. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Vice-Prefeito Municipal, Senhor José Fortunati, que externou a admiração que nutre pela figura do Senhor João Carlos D'Ávila Paixão Cortes, assinalando a valiosa contribuição representada por seu trabalho em defesa para a cultura do povo rio-grandense. A seguir, o Coral da Caixa Econômica Estadual, sob a regência do Maestro Agostinho Ruschel, interpretou as canções "Céu, Sol, Sul" e "Negrinho do Pastoreio". Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou todos para, em pé, assistirem à entrega, pelo Vice-Prefeito José Fortunati e pelo Senhor Antonio Augusto Fagundes, respectivamente, do Diploma e da Medalha alusiva ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor João Carlos D'Ávila Paixão Cortes, concedendo a palavra ao Homenageado, que historiou sobre sua participação no Movimento Tradicionalista Gaúcho e agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou a cantora Fátima Gimenez a interpretar o Hino Rio-Grandense. Durante os trabalhos o Senhor Presidente registrou as presenças dos Senhores Jorge Raupp e Sezafredo Machado, produtores gráficos, bem como registrou também o recebimento de correspondências alusivas à solenidade, de autoria dos Deputados Ledevino Piccini, Ciro Simoni e Paulo Vidal, da Procuradora-Geral do Estado, Senhora Eunice Nequete, do Secretário de Estado de Agricultura e Abastecimento, Senhor César Schirmer, o Secretário Estadual de Minas, Energia e Comunicações, Senhor Assis Roberto Sanchotene de Souza, do Prefeito Municipal de Sant'Ana do Livramento, Senhor Glênio Lemos, e do Senhor Armando Peres. Às vinte e uma horas e cinqüenta minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrada a presente Sessão, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Clovis Ilgenfritz e Elói Guimarães, este nos termos parágrafo único do artigo 27 do Regimento, e secretariados pelos Vereadores Reginaldo Pujol e Elói Guimarães, Secretários "ad hoc". Do que eu, Elói Guimarães, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada apresente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Boa noite, Senhoras, Senhores que nos honram com suas presenças. Srs. Vereadores, estamos dando início a 8ª Sessão Solene da I Sessão Legislativa Ordinária da XII Legislatura.

Esta Sessão Solene é destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. João Carlos D'Ávila Paixão Cortes. O Processo nº 2416/96, que resultou no Projeto de Lei do Legislativo nº 150/96, é de autoria do Ver. Elói Guimarães e foi aprovado em 1996 pela unanimidade da Casa.

Convidamos para compor a Mesa: o Exmo. Sr. Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre, José Fortunati; o nosso homenageado, Sr. João Carlos D'Ávila Paixão Cortes, e a Sra. Marina: o representante do Sr. Governador do Estado, Senhor Antônio Augusto Fagundes, que é Presidente da Fundação Gaúcha de Tradição e Folclore; o representante do Comando Militar Sul, Coronel Mário César Fagundes Gomes; o representante do Comando-Geral da Brigada Militar, Major Francisco Carlos Freitas e o Deputado Estadual Bruno Neher, do Partido Trabalhista Brasileiro.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos a execução do Hino Nacional.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós temos a seguir a satisfação de convidar, para abrir a presente Sessão, o Sr. Aristides Gonçalves que irá declamar uma poesia.

 

O SR. ARISTIDES GONÇALVES: A poesia é a 'Chama Crioula Cinqüentenária':

"Foi no Parque Farroupilha

aqui em nossa Capital,

identifico o local

para dizer o que aconteceu,

a Chama Crioula nasceu

para iluminar os galpões,

e aquecer os corações

num sentimento fraterno,

amenizar os invernos

das futuras gerações.

 

Não quero afrontar alguém

num desafio de memória,

venho é contribuir para História

do meu Rio Grande sem luxo,

pois eu também sou gaúcho

e não ligo para vitória,

conheço a trajetória

desta Chama queimando,

e um piquete desfilando

com o peito cheio de glória.

 

Esteve lá o Paixão Cortes

gaúcho de Livramento,

um líder cento por cento

com o Cyro Dutra Ferreira,

e o Fernando Machado Vieira,

outro mestre com talento

mas naquele momento

foram os três que cavalgaram,

por isso não se separam

da História do Movimento.

Esta é a Chama Crioula

que desde o início eu falo;

nos estudantes de a cavalo,

pilchados bem a preceito,

impondo o maior respeito

aos costumes regionais,

escreveram nos anais

a projeção do futuro,

este gauchismo puro

que não se apaga jamais.

 

O Rio Grande está de pé

 e as bandeiras tremularam,

quando os gaúchos anunciaram

- a tradição não morreu -

 foi uma planta que nasceu

 e os frutos se espalharam,

quando os jovens adotaram

com respeito e patriotismo,

o nosso regionalismo

os CTGs aumentaram.

 

Passados cinqüenta anos

do grande acontecimento,

que não tem um monumento

mas rendo a minha homenagem,

escrevendo esta mensagem

com alma e sentimento,

ao Rio Grande me apresento

brindando o cinqüentenário,

presente de aniversário

do candeeiro fumacento.

 

Talvez alguém me censure

por homenagear um candeeiro,

que iluminou três campeiros

que andaram batendo estrivo,

com pensamento positivo

neste Rio Grande altaneiro,

se faltou um peão caseiro

para servir um chimarrão,

sobrava no coração

orgulho de brasileiro.

Eu vim aqui para homenagear

não quero endeusar ninguém,

posso até agradar alguém

mas a causa é bem maior,

pois eu também sei de cor

o trajeto percorrido,

trabalho bem conhecido

desses três gaúchos francos,

hoje de cabelos brancos

cientes do dever cumprido".

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos dizer que a poesia declamada pelo Sr. Aristides Gonçalves foi "Chama Crioula Cinqüentenária". Outra observação importante: o Piquete do CTG 35, que foi recepcionado pelo homenageado, faz, aqui, o quadro vivo composto pelo grupo de dança “Os Tropeiros”. Nós queremos uma salva de palmas. (Palmas.)

Queremos também considerar, como extensão da Mesa, a Ana Paixão Cortes, filha do nosso homenageado; o Sr. Ivo Benfat, Vice-Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho; o Sr. Hamilton Braga, representando a Secretaria Municipal de Cultura; o Sr. Airton Pimentel, do Sindicato dos Compositores e Músicos do Rio Grande do Sul e Instituto Cultural Darcy Ribeiro. Queremos também saudar a presença dos Vereadores João Nedel, Adeli Sell, Cláudio Sebenelo, Reginaldo Pujol, Elói Guimarães, proponente desta homenagem; nosso primeiro suplente do PFL, Ver. Gilberto Batista.

O Ver. Elói Guimarães falará como proponente e pelas bancadas do PDT, PTB, PMDB, PPS e PSB.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Meu caro Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Clovis Ilgenfritz. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Ao Dr. Antônio Augusto Fagundes permitam-me chamá-lo de Comandante dos Cavaleiros da Paz. Também quero referir os filhos do homenageado: o Júlio, o Carlos e a Ana. A Maria Zuleina não está porque reside no Rio de Janeiro. Também aqui, engalanando este ato, o Coral da Caixa Econômica Estadual, que tem no símbolo a cuia, quase que um envolvimento atávico com as tradições do Rio Grande. Aqui o quadro vivo de “Os Tropeiros”, representado por peões e prendas. Também aqui o querido patrão do "35", o Fernandes. O Fernandes, hoje, lá por volta de três e meia, quatro horas, juntamente com sete companheiros, encilhou os pingos e veio aqui na Câmara Municipal, oportunidade em que o Paixão e eu lhe prestamos, ali, a céu aberto, uma homenagem, porque foram oito os cavaleiros que, em setembro de 1947, fizeram escaramuças pela cidade de Porto Alegre. Presente, também uma grande figura da literatura regional do Rio Grande do Sul, o Sr. Barbosa Lessa; o velho poeta que marca o sinal do princípio de todo o movimento tradicionalista, Capitão Guaragata; representantes dos CTGs, como o Tiarajú, representado pelo seu Patrão; o Sentinela do Rio Grande, de Glorinha; o CTG Gildo de Freitas; o CTG Querência da Liberdade; o CTG Maragato e demais presentes que paraninfam este ato de entrega do Título de Cidadão de Porto Alegre a esta figura gigantesca, magnífica que é o Paixão Cortes. Eu diria que o Paixão está para o tradicionalismo como o Aleijadinho está para a escultura; o Paixão está para o tradicionalismo como Castro Alves está para o verso Condoreiro. Esta é a dimensão do nosso homenageado. Evidentemente que a sua biografia, a sua trajetória é muito grande para ser aqui decantada. Em rápidas palavras nós temos que nos reportar à história e chegar a 1947. Essa é uma data de um grande marco, eu diria, da história rio-grandense. Exatamente em setembro de 47, jovens dos 16 aos 20 anos eram estudantes do Grêmio Estudantil Júlio de Castilhos, muitos vindos do nosso interior. Num determinado momento, o Paixão Cortes sugeriu ao Grêmio Estudantil que fundasse um departamento tradicionalista. Discutiram, debateram e, afinal, decidiram a criação desse departamento e então começaram a se movimentar. Nós estávamos recém saídos da Segunda Conflagração Mundial de 45; era 47. Ainda se ouvia, à distância, os estampidos daquele acontecimento. No Brasil, e de resto no Rio Grande do Sul, a influência do estrangeirismo era muito grande. Era a moda do "Made in USA", era a moda americana causando verdadeiro impacto na cultura brasileira, em especial, na cultura regional, na cultura gaúcha. Talvez no inconsciente dessa juventude magnífica estejam os anseios para dar-se um certo "chega para lá" nesse movimento cultural que se abatia sobre o país. E vejam que mesmo nas cidades do interior do Estado, os próprios homens da Campanha não eram muito bem vistos quando ingressavam nos salões de botas e bombacha. Havia uma certa resistência e os estudantes começaram a desenvolver um debate em torno dessas questões. Em 1847 se dá o traslado dos restos mortais de Davi Canabarro e a Liga de Defesa Nacional convoca os estudantes, que já tinham um princípio de organização, para que se fizesse um piquete, uma guarda, para acompanhar os restos mortais do grande General Davi Canabarro. Aquele que disse, em 1835, quando já dizimada a cavalaria farrapa e o Ditador Rosas lhe oferecia armas para resistir contra os imperiais: "O primeiro soldado que atravessar a fronteira, com o seu sangue, assinaremos a paz com os imperiais, porque antes de sermos gaúchos somos brasileiros". Então, os estudantes, durante aquele período, desfilaram pela cidade a cavalo. Conta-se que o Paixão estava ali, para o lado da Bento Gonçalves, quando um sujeito passou por ele e o chamou de grosso e não-sei-mais-o-quê e já o mango comeu na cruz, na testa do índio esse. São pequenos fatos da história. Os estudantes, portanto, fazem essa guarda ao traslado de Davi Canabarro e o levam até o Panteon, ali na Santa Casa.

O dado mais significativo é que os estudantes e o Paixão procuram o então Major do Exército que coordenava os movimentos da Semana da Pátria e lhe solicitam uma centelha da Pira da Pátria, do Fogo Simbólico, e ele, o Major que coordenava, concordou. Então reuniram-se com o piquete e foram para junto da Pira da Pátria. E quando passava da meia-noite do dia oito, o Paixão subiu numa escada improvisada e, com uma tocha embebida em querosene, na ponta de um cabo de vassoura, tirou uma centelha do fogo que vinha de Vistóia e dali seguiram em direção ao Colégio Júlio de Castilhos, onde, em local próximo, em um candeeiro crioulo improvisado, acenderam o Fogo Farroupilha, a Chama Farroupilha. É exatamente ali que começa a nascer o Movimento Tradicionalista, é ali que nasce a Ronda Gaúcha, depois chamada de Ronda Crioula. Daquele tempo para cá todos aqui sabem que o Movimento se desenvolveu no bairro porque o Paixão apresentou uma série de propostas, em uma determinada reunião, para que se fizesse um baile que se chamava, na época, gauchesco, havendo outras atividades como declamações, poesias, apresentação de danças, etc. Então, o Paixão apresentou essas propostas e fizeram o baile gauchesco. Para lá também, no dia 20 de setembro, foi conduzido o candeeiro crioulo. Nesse bairro campestre, até então essa figura de CTG, de Movimento Tradicionalista Gaúcho não existia, não estava catalogado, era um movimento que existia na campanha, nas atividades rurais, etc., mas não como movimento organizado. Esse baile gauchesco não se chamava fandango. O nosso querido Barbosa Lessa, que aqui está, sugere a criação de um clube campestre, um clube nativista, um clube tradicionalista, e aí, logo em seguida, inicia esse movimento para a criação dos CTGs. Em 24 de abril de 1948 é fundado o nosso CTG 35. Funda-se o 35 que, no ano que vem, vai fazer meia centúria, cinqüenta anos! Homenagem também, Patrão, queremos prestar aqui, hoje, pelo aniversário do 35, esse pioneiro, esse sinuelo, esse que foi a semente que frutificou. E vejam bem, nós temos hoje mais de mil e quinhentos CTGs, não só no Brasil. Os CTGs saíram das fronteiras internas do Rio Grande do Sul e das fronteiras nacionais. Hoje há CTGs pelo mundo. Tenho dito, reiteradamente, que não temos melhor embaixada das nossas tradições, do nosso Estado, da nossa cultura do que os CTGs que estão espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Apenas destaquei esse aspecto, que é fundamental, porque a partir dessas figuras que temos aqui hoje, com o Paixão à frente, é que se inicia toda essa bela cultura do Rio Grande, essa cultura tradicionalista. Depois, ela se infiltra nos mais diferentes ramos: na moda, na música, na poesia, nos hábitos, nos costumes, etc. Então, esta homenagem, esse resgate que a Câmara faz é de toda justiça. Estamos aqui resgatando uma dívida da Cidade de Porto Alegre para com o iniciante dessa bela cultura nativa gaúcha, que é o Paixão Cortes. Uma figura que levou os nossos hábitos, as nossas tradições, a nossa dança, a nossa música para fora. Ampliou a fronteira dos nossos hábitos, da nossa cultura. O Paixão é um homem que esteve na Europa por diversas vezes. Apresentou-se no Olympia de Paris, foi entrevistado na BBC de Londres, fez palestras, conferências, buscou um grande pesquisador. Não há cultura, não há desenvolvimento sem pesquisa! Todos sabemos o que representa pesquisar: representa uma luta muito dura, muito sacrifício para se trazer, do fundo da história, esses valores todos que constituem essa simbologia. Érico Veríssimo dizia que a vida é um símbolo, uma simbologia! Então, é essa figura notável sob todos os aspectos, é este homem que foi um modelo vivo para que Antônio Caringi construísse o Laçador, que é o símbolo de Porto Alegre. O perfil de Paixão Cortes está ali, na entrada de Porto Alegre, reconstituído em bronze, na estátua do Laçador. Não só a figura do homem da campanha, do homem do Rio Grande, que não traz só os seus aspectos físicos, mas traz também uma alma extremamente bravia, uma alma forte. A centelha retirada do Fogo Simbólico da Pátria é, ao lado do gesto de Davi Canabarro, outra demonstração pública para aqueles que, ao longo da história, nos acusavam de sermos divisionistas. Quando Paixão e seus companheiros, naquele momento, expressando os sentimentos do inconsciente coletivo, retiram da Pira da Pátria, do Fogo Simbólico uma centelha e a integram nos sentimentos gaúchos é mais uma demonstração de que, antes de sermos separatistas, somos brasileiros. E muito brasileiros! Porque se há um povo que não é brasileiro por acidente geográfico, pelas manhas da diplomacia, somos nós, gaúchos, porque nós optamos por ser brasileiros quando nos combates de fronteiras; pela espada, pelo casco do cavalo, por toda uma geração de caudilhos nossos, de valorosos homens de bem, se demarcaram as fronteiras nessa extremadura meridional do Brasil. Mas não posso mais continuar tomando tempo, porque outros oradores têm que se fazer ouvir. Mas é tão rica a biografia do Paixão, é tão amazônico o seu universo, que gostaríamos de continuar, Barbosa Lessa, fazendo essas considerações todas, que são importantes, porque isso é a nossa história. E é a nossa história hoje que nós, gaúchos, conservamos nos CTGs, nas nossas horas de tertúlia, nos nossos momentos, nos nossos galpões. Isso é essa vocação, essa aderência que temos com nosso chão, com nossa terra, com nossos hábitos e com nossos costumes.

Esqueci de saudar essa grande cantora, que é a Fátima Gimenez, que eu cumprimento.

Encerro e digo que a Casa está honrada, a Câmara Municipal de Porto Alegre está homenageada porque, efetivamente, o que o Paixão deu para a história do nosso tradicionalismo, dos nossos costumes e da nossa música é muito grande. Evidentemente, é um homem firme, é um homem são, um homem que está no auge das suas virtualidades e vai continuar dando sua contribuição para a história do Rio Grande e para a história das nossas tradições. Quero agradecer a todos pela presença e mais uma vez dizer que há muitas contribuições, muitíssimas. Outro dia ainda, lia sobre uma participação que o Paixão teve no "Tempo e o Vento". Em "Um Certo Capitão Rodrigo", ele é o Pedro Terra, pai da Ana Terra. Tem livros traduzidos para o inglês, discos gravados, uma contribuição imensa, um grande manancial do qual poderíamos falar, e falar.

Encerro, agradecendo a todos e dizendo: "Paixão, para ti, para tua esposa, para teus filhos: a Cidade muito te agradece pelo que fizeste e ainda vais fazer por ela, pelo nosso Estado e pelo nosso País". Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.) 

 

O SR. PRESIDENTE:  Já havíamos anotado para citar a presença da nossa querida cantora Fátima Gimenez; antecipou-se em boa hora o nosso orador, que falou pouco, mas falou bem. Poderia continuar; ninguém iria se incomodar.

O próximo orador inscrito é o Ver. Cláudio Sebenelo, que falará em nome do seu Partido, o PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: João Carlos D'Ávila Paixão Cortes. Há mais ou menos 45, 50 anos eu gostaria de ter um papo contigo, sobre as minhas inconformidades, sobre as nossas identidades e antagonismos, até sobre uma certa desconfiança, que, depois, vou te falar.

Eu gostaria de dizer que, quando começou esta cerimônia, não me canso de ouvir o Hino Brasileiro. Até é uma forma meio elitista, não é? Gosto muito da retreta, da bandinha, do coreto, mas aquela pureza sonora da orquestra sinfônica tocando o Hino Nacional, fica muito mais rica a harmonia, fica absolutamente emocionante.  E ficamos mais povo, mais nação, mais o nosso linguajar que fala através dessa música. No fim da cerimônia, Paixão, vais sentir a mesma coisa. Essa belíssima obra-prima feita por um gaúcho fantástico, o Maestro Mendanha, esse belíssimo Hino Rio-Grandense que nos leva, muitas vezes, a pensar e a te invejar, porque és um homem de raízes. Dessa raiz de cereal, raiz de gosto de terra, gosto de chão, desse teu chão molhado pela chuva dessa fertilidade intelectual que te enfeita como ser humano, que faz produzir danças e andanças nas tradições gaúchas, junto com esse incomensurável Barbosa Lessa.

O Natal dos Gaúchos e os Santos Reis, que é fantástico, porque sintetiza a herança açoriana que veio baixando do Desterro, veio para Torres, veio para o nosso Litoral. Faz-me lembrar também desse poeta fantástico que, talvez, esteja sentado numa daquelas cadeiras, que é o Glauco Saraiva. "Folk, Festa e Tradição Gaúcha."

Não sei se tu lembras do Conjunto Vocal Farroupilha, do falecido Neneco que tocava um acordeão supimpa. Pois ali ouvi, pela primeira vez, do Paulo Ruschel, "Os Homens de Preto", que Elis depois gravou de forma inesquecível.

Continuo com uma imensa inveja de ti, porque fazes rádio, cinema, jornal, televisão, disco, fazes tudo. Tu fazes arte. Só vou falar da desconfiança que eu tinha, que é da Dança do Pezinho, sabes? Aquilo eu achava meio desequilibrado, meio que virando a palma da mão para cima. Mas te confesso que essa desconfiança passou, porque para dançar o "Pezinho" tem que ser muito macho!

Às vezes te confundo, sabes, com o Augusto Maia. Aquele cara que fez "Porto Alegre das Pipeiras",  uma das coisas mais lindas declamadas por Carmem Silva. O velho Aureliano de Figueiredo Pinto, do Coronel Falcão, do professor Mosar Pereira Soares - cabeça maravilhosa e que sabe tudo. Um dia fui a uma palestra, e ele falava sobre geologia do Rio Grande do Sul. Falou seis ou sete horas e ninguém se mexeu, porque ele fala pelos cotovelos, mas fala como um deus. Creio que foste quem mais entendeu, explicou e ensinou essa mescla fantástica, vinda lá da Ilha dos Açores, junto com o nosso índio autóctone e junto com esse gaúcho, essa personalidade com a qual o País inteiro, o mundo inteiro se encanta.

E, por fim, toda essa miscigenação que houve, plasmando, contemporaneamente, esse invejável e maravilhoso gaúcho.

Foste o Pedro Terra; o pai da Ana Terra,  mulher do Pedro Missioneiro. Eu falava, outro dia, com a Mafalda Veríssimo - a esposa de Érico Veríssimo - e ela me disse: "Olha, o Érico pesquisou para escrever a trilogia 'O Tempo e o Vento'. Ana Terra dizia: 'Nasci em dia de vento'. O primeiro amor dela foi em Sorocaba, na feira, em dia de vento. Ela teve o primeiro filho num dia de vento, por isso era “O Tempo e o Vento”.

O monumental Érico Veríssimo estudou e desenhou para nós todo aquele caminho da planície, subindo para o planalto e indo embora para vender o nosso charque, nossos produtos, lá naquela feira de Sorocaba que provocou, também a Guerra dos Farrapos. Essa página descomunal da história brasileira. Foste tudo. És hoje a maresia dos seres atlânticos. És o calmo da vida campesina, és a ligeireza do homem urbano nas poeiras da Cidade, essa poeira que branqueia as tuas botas, dessa Cidade que hoje te homenageia para sempre Cidadão; esse currículo e tudo isso que tu apresentaste só pode ser fruto de uma grande paixão Cortes; tu és Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registro, para o nosso homenageado e para todos os Senhores e Senhoras, mensagens recebidas, parabenizando o merecido título de Cidadão de Porto Alegre, do Deputado Ledevino Piccinini; da Sra. Eunice Nequete, Procuradora-Geral do Estado; do Sr. Assis de Sousa, Secretário de Estado; do Prefeito Municipal de Livramento Glênio Lemos; do Secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, Sr. César Schirmer; de Canguçu, Sr. Armando Peres, Conselheiro do MTG; do Deputado Ciro Simoni e do Deputado Paulo Vidal.

O próximo orador é o Ver. Reginaldo Pujol.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal, Ver. Clovis Ilgenfritz; Exmo. Sr. Vice-Prefeito de Porto Alegre, Dep. José Fortunati; ilustre homenageado João Carlos D'Ávila Paixão Cortes e sua esposa Marina Paixão Cortes; Exmo. Sr. representante do Governador do Estado do Rio Grande do sul, meu particular amigo Antônio Augusto Fagundes, Presidente da Fundação Gaúcha de Tradição e Folclore e destacado homem da cultura rio-grandense, já devidamente registrado por essa Casa que, em sucessivas ocasiões, teve a oportunidade de distingui-lo, com justiça, por esses méritos e por esses feitos; meu prezado amigo e deputado da Assembléia Legislativa, Bruno Meyer, representante do Partido Trabalhista Brasileiro no Parlamento Rio-Grandense e hoje aqui representando a Casa do Povo do Rio Grande, nesta homenagem que a cidade de Porto Alegre presta a João Carlos D'Ávila Paixão Cortes; ilustre representante do Comando Militar do Sul, Cel. Mário César Fagundes Gomes, o Coronel Fagundes, que faz com que a nossa Mesa comece por um "fagundaço"; digno representante do Comando-Geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, a nossa briosa Brigada Militar, Major Francisco Carlos Freitas; ilustre Senhor representante da Secretaria Municipal da Cultura, Sr. Hamilton Braga; meus Senhores e minhas Senhoras.

Havia registrado aqui inúmeras pessoas que nos encantam com sua presença nesta Sessão Solene, em que a Casa do povo de Porto Alegre complementa uma inspirada iniciativa do nosso companheiro de jornada, Ver. Elói Guimarães, que, ao propor, ainda na legislatura passada, a outorga da cidadania a Paixão Cortes, recebeu como sodalício a única resposta que poderia receber: a unanimidade, o aplauso, a aceitação.

Nesse registro, eu me lembrei de minhas origens e vi que um gaudério como eu, que remonta lá das barrancas do Quaraí, não poderia ter nesta tarde Paixão, para não fazer feio, grandes pretensões. Afinal o pano-de-amostra já foi aberto, e dois belíssimos pronunciamentos já ocorreram, de pessoas que, por admirar o teu trabalho, dele se abeberaram e nele se aprofundaram, trazendo para todos nós informações precisas, claras, em que, com tintas bem gaúchas, é enaltecido esse maravilhoso trabalho que, a partir de 1947, se faz em favor da cultura do Rio Grande. Então, como gente de Quaraí, o que eu posso fazer senão dar uma patada daquelas de porco, curta e grossa? Nesta linha, fui aconselhado, inclusive, pelo teu ex-colega Paulo Emílio Godinho Correia, que, se não estava curtindo 47, foi contrariando a vontade dos quaraienses que aqui o haviam colocado no Júlio de Castilhos para essa incumbência. Seguindo a orientação sábia dele e tendo ouvido alguns companheiros nossos, eu me lembrei que, há 20 anos, não mais que isso, eu estava, uma noite, na escuridão do auditório da Assembléia Legislativa do Estado  eu - que até aquela data, sabia quem era Paixão Cortes, conhecia-o pelo rádio, pela televisão, pelos jornais, mas que ainda não tinha tido a oportunidade de apertar a sua mão e dizer-lhe da minha admiração - ouvi uma voz que, alta e tonitruante, disse: "Falta uma gaita na música do Rio Grande". Aquele timbre de voz que na escuridão se ouvia, me bateu direto no ouvido e eu percebi que era uma voz conhecida. Mais tarde, do meio da multidão, emergia esse homenzarrão com seu bigode e o seu protesto. Protesto que, no meu entendimento, marca um segundo momento na história da música campeira do Rio Grande, marca um segundo momento na história do nativismo no Rio Grande, marca um momento decisivo na reversão da história da nossa própria tradição e desse seu aspecto cultural que, adequadamente, a partir de 47, veio se desenvolvendo paulatinamente.

Eu lembro - e o Airton Pimental deve-se recordar melhor do que eu - que alguns meses depois, eu tinha a graça de abraçá-lo lá no palco do Cine Glória, porque a música do Rio Grande havia resgatado a sua gaita, e lá estava a gaita recebendo a consagração da Califórnia da Canção Nativa. Por isso meus amigos eu, que ia dar uma patada de porco, começo de certa forma a me comprometer com os meus objetivos. Afinal, Paixão Cortes é uma pessoa que tanto contribuiu para a cultura do Rio Grande, que é difícil a gente ser sintético. Hoje, eu recebi um excelente trabalho que nos lembra que o João Carlos Paixão Cortes nasceu lá na Santana do Livramento, provavelmente para os lados do Cati, para as bandas do Quaraí. Que hoje mora na Cidreira, intercambiando-se, também, com Porto Alegre e que tem uma tradição, e mais que isso, um acervo em favor da cultura gaúcha. Esse mesmo homem, que, em 47, junto com Glauco Saraiva, junto com o nosso querido amigo Luis Carlos Barbosa Lessa e Paulo Nunes Godinho Correia, lançava a chama da tradição crioula, hoje está aqui na capital dos pampas, na capital farroupilha a receber as homenagens que, com toda a justiça, a Cidade lhe presta, as pessoas mais qualificadas do tradicionalismo e dirigentes do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclores, que estão conosco; o CTG  35, que, hoje, completa 49 anos, através de seu Patrão Clóvis Fernandes. O que nos traz, hoje, aqui, todos juntos, como juntos estiveram na zero hora do dia 8 de setembro aqueles bem pilchados jovens, estudantes do Colégio Júlio de Castilhos, que lançariam a chama crioula. E o que nos traz aqui é a convicção de que a chama crioula é o símbolo de união e o espírito da fraternidade entre os povos. Mais do que uma exaltação da nossa tradição de gaúchos é a comprovação objetiva, concreta e eficaz de que nós do Rio Grande somos brasileiros. Não por determinismo geográfico, mas por opção histórica. E mais do que pela opção histórica, o somos pela consciência de que temos condições de levar aos vários quadrantes do território brasileiro ensinamentos preciosos que nos foram deixados pelos nossos antepassados. Paixão Cortes, o nosso homenageado, percebeu que acender a chama crioula, em 1947, estava-se dando o espargimento de uma cultura e, sobretudo, de um compromisso. Um compromisso que nós, gaúchos, temos que honrar com toda a intensidade. Ser gaúcho é algo muito importante, ser gaúcho - disso se apercebeu Paixão Cortes e seus companheiros de jornadas - é um compromisso extremamente importante, porque é um compromisso que tem que ser renovado hora a hora, dia a dia, momento a momento, de honrando as nossas tradições, não negarmos nunca o nosso indelével compromisso com a igualdade, com a liberdade e com a fraternidade. Nesse compromisso se emergiu e se alimentou Elói Guimarães quando, inspiradamente, ensejou a todos nós que integramos esta Casa, unanimemente, nos rendermos à evidência do teu trabalho e fazendo justiça num gesto correto, unanimemente, decidiram: tu és pela lei aquilo que tu já eras pelo coração. Cidadão de Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O PRESIDENTE: O Ver. Adeli Sell está com a palavra.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente, caro Vice-Prefeito José Fortunati; nosso homenageado Paixão Cortes, demais componentes da Mesa, já nominados; Senhores Vereadores, Senhores e Senhoras.  Paixão Cortes já tem o privilégio de ter em seu próprio nome aquilo que é uma simbologia da sua própria vida, a paixão pelas coisas da nossa terra, as coisas do nosso Rio Grande. Ademais, o senhor é um gaúcho radical; eu, que sou catarinense, tento ser mais radical ainda, para ir a fundo, para buscar, nas raízes do nosso povo e da nossa terra, aquilo que foi a cultura e a história dos gaúchos que formaram esse Estado e que formaram a nossa bela Porto Alegre.

Eu quero dizer que aqui, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, do Líder, Ver. Gerson Almeida, que não pôde estar aqui, rendo todas as homenagens possíveis, porque o senhor, efetivamente, merece a homenagem e o título, que tão correta e sabiamente o nosso colega, Ver. Elói Guimarães, propôs a esta Casa, que unanimemente foram aprovados. Sei que o senhor já tem uma trajetória de muitas lutas e muito serviço, prestados ao Rio Grande do Sul e a nossa Capital, desde os lembrados idos de 47, no Júlio de Castilhos Que além da sua história, também trouxe tantas outras histórias para a nossa Cidade e para o nosso Estado.

Vou fazer-lhe um apelo, muito veemente, caro Paixão Cortes: aqui ao lado da Câmara de Vereadores nós temos o Parque da Harmonia, e o objetivo da Administração Municipal de Porto Alegre, da sua Secretaria Municipal do Meio Ambiente, é transformar, efetivamente, o Parque da Harmonia num verdadeiro parque temático das raízes e da história do nosso povo. Quero aproveitar e fazer esse apelo, porque tenho certeza de que, com suas idéias, com seu trabalho, com sua convicção, e de todas as pessoas que o senhor consegue agregar em torno de si, vai dar grandes idéias ao nosso Vice-Presidente, que, junto com o nosso Prefeito, farão desse belo local à beira do Guaíba, ao lado da Casa Legislativa, um lugar de grande atração turística para Porto alegre; que vamos celebrar como centro turístico do Mercosul e que aqui vamos colocar mais e mais raízes do povo da nossa terra. Esse é um apelo que faço e tenho certeza de que, com suas idéias e com todos aqueles que o senhor agrega aqui e que aqui estão para lhe homenagear, nós faremos como as suas atividades já fizeram: atrativos para o nosso Estado. Aqui nesta Casa, junto com o meu colega Nedel e outros Vereadores temos tratado e temos buscado - e vamos buscar, cada vez mais -, junto à municipalidade, meios para que Porto Alegre seja, de fato, o centro turístico do Mercosul, porque aqui sim há raízes, aqui sim há cultura, para que outros povos e outras nações e o povo do interior do Estado conheçam, cada vez mais, e usufruam de tudo isso, que nós podemos dar.

Finalmente, quero dizer novamente que o senhor é um homem muito radical porque consegue ser o emblema, o símbolo para a entrada da nossa Cidade, e mais do que isso, o senhor consegue ser o cartão postal de Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estou desconfiado de que uma nova qualidade está aparecendo em nosso querido homenageado Paixão Cortes, porque ele inspira os nossos oradores a fazerem pronunciamentos importantes.

Com a palavra o Ver. João Carlos Nedel.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL (Saúda os componentes da Mesa.) Eu gostaria de ao cumprimentar dois integrantes do movimento da nossa tradição gaúcha - o Sr. Luiz Trindade, do CTG Querência da Liberdade, da minha paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Porto Alegre, e o representante do CTG Galpão de Estância, da minha Cidade, São Luiz Gonzaga, Davison Labrea -, cumprimentar também todos os tradicionalistas aqui presentes, que vieram para homenagear nosso querido Paixão Cortes; Senhores Vereadores; Senhoras e Senhores. Em nome do PPB, tenho imensa honra em saudar João Carlos D'Ávila Paixão Cortes, um brilhante talento que Deus oferece à sociedade gaúcha. Engenheiro-agrônomo, especializado em ovinotecnia, nascido em Santana do Livramento, folclorista, pesquisador dos costumes e das danças do nosso folclore, escritor, comunicador, apresentador e participante dos mais belos espetáculos folclóricos que o Rio Grande do Sul já viu, artista cinematográfico, bailarino e cantor, serviu como modelo para a estátua do Laçador, um dos símbolos de Porto Alegre e do Rio Grande, e uma das figuras que mais colaborou com o turismo do Rio Grande do Sul. Esse é o nosso querido Paixão Cortes.

O homem Paixão Cortes também tem uma família com a dona Marina, que está aqui. Paixão Cortes teve a imensa graça de gerar quatro filhos: o Júlio, a Maria Juliana, o Carlos e a Ana Regina. O Júlio lhe presenteou com a neta Débora. Conversando com seus filhos, pedi que definissem o pai, e a resposta foi uma bela oração que muito deve orgulhar o pai: "Nosso pai é um exemplo de vida para nós. É uma vida inteira voltada ao folclore, ao estudo, à dedicação e à perseverança por tudo aquilo em que ele acredita. Nosso pai tem um ideal. Nosso pai é um idealista."

Carismático, como o define o nosso querido Barbosa Lessa, Paixão Cortes quer ainda ver resgatado aquele movimento que criou a Chama Crioula e que neste ano completa 50 anos. Paixão Cortes quer que o Colégio Júlio de Castilhos, de onde partiu o movimento da chama Crioula, através do seu Departamento de Tradições Gaúchas, seja transformado em paradigma para a área educacional da cultura e das tradições gaúchas. Que belo desejo, Paixão! Porto Alegre, que hoje concede o título de Cidadão Honorário a esse ilustre gaúcho, foi, por sua obra e ação, a primeira célula que deu início ao Movimento Tradicionalista e que hoje conta com mais de duas mil entidades em todo mundo, inclusive em Tóquio, no Japão. E esse movimento foi iniciado em Porto Alegre! Lembro, Paixão, quando há mais de 20 anos ajudei a fundar, junto com José Machado Leal, Airton Pimentel e muitos outros gaúchos, o conjunto “Os Muuripás”. Lá estavas tu, orientando, ensinando, incentivando. Que belo exemplo tu me deste há mais de 20 anos! Tenho a honra de poder te chamar de tocaio. Por isso, tocaio, Porto Alegre e o Rio Grande muito te devem e hoje te homenageiam. Quero agradecer a Deus, Paixão Cortes, pelos inúmeros talentos que ele te deu. Obrigado, meu Deus, por teres criado Paixão Cortes; obrigado, Paixão, pois tu melhoraste o mundo! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de passar a palavra ao nosso Vice-Prefeito, queremos dar um recado do Patrão do CTG 35. Ele pede desculpas, mas o piquete que está presente terá que se retirar em virtude de outros compromissos assumidos. Nós o estamos liberando para cumprir o compromisso, como o gaúcho sempre fez.

O Sr. Vice-Prefeito José Fortunati está com a palavra.

 

O SR. JOSÉ FORTUNATI: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) No nosso cotidiano, sempre que vemos algum símbolo, alguma obra, alguma pessoa, normalmente quando essa pessoa, quando essa obra e quando esse símbolo nos é caro, automaticamente o nosso pensamento voa. E além do símbolo, além da pessoa, além da obra nos vem à mente algo relacionado com ele. Assim, temos a Rosa dos Ventos e, imediatamente, lembramos da VARIG. Tantos símbolos temos na Cidade! Quando qualquer um de nós passa pelo aeroporto Salgado Filho em direção a Porto Alegre e vê aquela belíssima estátua em homenagem ao Laçador tenho certeza de que, automaticamente, vislumbra esta figura, que é, certamente, tão grande quanto a própria estátua e que se chama Paixão Cortes.

Quando vejo Paixão Cortes e tenho certeza todos nós, automaticamente, nos lembramos do tradicionalismo, mas não qualquer tradicionalismo. Certamente daquele tradicionalismo de raízes profundas, engajado, do tradicionalismo, como diz muito bem o Ver. Adeli Sell, radical, como alguém que vai a fundo nas raízes, buscando o âmago dessas raízes e não se satisfazendo com as superficialidades. Um tradicionalismo de resgate cultural de um povo que tem uma história, que muitos procuram desconhecer. Certamente, em outros momentos, o poder central tentava, de todas as formas, fazer com que essa cultura fosse ignorada; momentos outros, como muito bem lembrou o nosso Ver. Elói Guimarães, em que outras nações, especialmente a nação americana, tentaram impor aqui a sua cultura, desconhecendo, fazendo desconhecer essa rica cultura, que é a cultura gaúcha.

Essa simbologia está presente e, certamente, vai permanecer e permanece com a presença ou a ausência do Paixão Cortes. Ao longo do tempo vai percorrer a nossa história, as nossas tradições e a nossa cultura.

Quero dizer, para ser muito rápido, meu caro Paixão Cortes, em meu nome, em nome do Prefeito Raul Pont, que queremos externar a admiração que temos pela sua figura, enquanto figura humana e enquanto um tradicionalista que muito faz com que este Estado possa-se orgulhar. Com essa belíssima iniciativa do Ver. Elói Guimarães, queremos dizer que temos orgulho porque o senhor se torna - sempre foi, mas, hoje, do ponto de vista formal - um cidadão de Porto Alegre. Desejamos vida longa a Paixão Cortes. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Assumindo a direção dos trabalhos, solicito que nos honrem com as suas vozes os componentes desse grande Coral da Caixa Econômica Estadual, regido pelo Maestro Agostinho Ruschel. Aqui estão arroladas três músicas: "Hino do Rio Grande do Sul"; "Eu Sei que Vou te Amar"; "Céu, Sol, Sul".

 

(Procede-se à apresentação do Coral.)

 

O SR. AGOSTINHO RUSCHEL: Como podemos sentir, estamos num clima bastante informal e por isso nós também tomamos a liberdade de alterar a segunda música para uma música gauchesca. O motivo é muito simples, a música é do patrono da Caixa Estadual e o autor, Barbosa Lessa, que também está presente; a música será "Negrinho do Pastoreio". Só queríamos registrar o nosso agradecimento pelo gentil convite que aceitamos, sem sombra de dúvidas, com toda a alegria e compromisso diante de tudo o que foi dito. Acredito que nada mais precisa ser dito quando se fala de Paixão Cortes. Como podem ver, nós temos, no nosso repertório, músicas gaúchas e brasileiras. Somos brasileiros gaúchos e gaúchos brasileiros. O Coral da Caixa tem oito anos de existência, já se apresentou praticamente em todas as cidades onde a Caixa tem agências no Rio Grande do Sul, já viajamos talvez mais de 50 mil quilômetros, fizemos cerca de 300 concertos, temos um disco gravado e assim levamos a cultura do Rio Grande do Sul, em nome da Caixa Estadual. Muito obrigado pelo convite.

 

(Executa-se a música “Negrinho do Pastoreio”.)

  

O SR. PRESIDENTE: Agradecemos ao Coral da Caixa Econômica Estadual, regido pelo maestro Agostinho Ruschel.

 Ato contínuo, vamos proceder ao momento também solene desta homenagem, que é a entrega efetiva, concreta, do Título de Cidadão de Porto Alegre ao nosso homenageado, o folclorista Paixão Cortes.

Peço ao Vice-Prefeito José Fortunati, que está representando o Prefeito Municipal, que entregue o título ao Paixão Cortes. Peço a todos que fiquem de pé.

 

 (É feita a entrega do título de Cidadão de Porto Alegre.)

 

Peço ao representante do Sr. Governador do Estado, nosso amigo, tradicionalista, Antonio Augusto Fagundes, que entregue a medalha Cidade de Porto Alegre ao nosso homenageado, Paixão Cortes.

 

(É feita a entrega da medalha Cidade de Porto Alegre.)

 

O Sr. Paixão Cortes está com a palavra.

 

O SR. PAIXÃO CORTES: Exmo. Sr. Presidente, (Saúda os demais componentes da Mesa.) Meus companheiros de causas do Movimento Tradicionalista, Senhores e Senhoras. É bastante difícil a gente sair lá do extremo da fronteira, de Santana do Livramento, com a idade de 14 para 15 anos, e chegar a Porto Alegre, para conhecer a Capital, trazendo as lembranças e as vivências da ancestralidade paterna e materna, dos campos e das coxilhas daquela fronteira. Mas trazendo, também, sempre, alguma coisa que lhe toca, profundamente, no desejo de progredir, de instruir-se, de procurar se integrar ao desenvolvimento e bem-estar da coletividade da qual você vai participar. Eu vim de Santana do Livramento para Porto Alegre e, ligado às minhas atividades estudantis, depois profissionais na Secretaria da Agricultura, sempre tive uma atenção especial com as comunidades das quais participei e continuo participando intensamente. Tive a felicidade - naquela época de difícil panorama cultural e de preservação dos hábitos e costumes rio-grandenses, como conseqüência de uma geração da Segunda Guerra Mundial - de ter um grupo de companheiros vindos do interior que, assim como eu, também tinha raízes profundas de vivência rural. E foi aqui em Porto Alegre que houve esse caldeamento de idéias, de jovens que questionando, interrogando, se posicionando, começamos a analisar o que representávamos naquela geração. Nós estávamos ali dentro da Capital do Estado, fazendo, participando, além de, simplesmente, estar adquirindo conhecimentos culturais. Foi decorrente dessa análise, dessa série de considerações e óticas, que verificamos que havia necessidade de tomar uma resolução. Os poderes públicos, as instituições responsáveis pelos aspectos culturais, artísticos e os próprios órgãos governamentais pouco davam atenção àqueles que procuravam a essência de suas vidas alicerçadas nas raízes da ancestralidade. Foi assim que começamos, assim que resolvemos, que tomamos um rumo e estabelecemos as nossas metas, os nossos ideais que perseguimos até os dias atuais.

Nessa campeirada, palavra essa ausente, naquela época, porque nem o linguajar era possível trazer ao conhecimento do urbano, muito menos a roupa, muito menos o traje, nem o canto, nem o mate e o chimarrão. Estava proibido chegar-se à porta da residência ou à janela para tomar o mate. Foi justamente esse grupo que resolveu se posicionar e junto comigo estabelecer o que começou a se chamar de "Departamento de Tradições Gaúchas do Colégio Júlio de Castilhos", em 1947, pois estávamos bombardeados de todos os lados: pelos jornais, revistas e pela imprensa falada. Todas essas manifestações eram convergentes para que se eliminasse tudo o que se relacionasse com a raiz e com a nacionalidade. Era o estrangeirismo total dominando, modificando os nossos hábitos e querendo trazer aspectos que não estavam em sintonia com a formação histórica, cultural e social da gente rio-grandense. Foi aí que começamos a tomar os nossos caminhos, as nossas atitudes. Às vezes, não bem entendidas, mas com uma força muito interior, muito séria e muito profunda e que nos traz até os dias atuais, na renovação do nosso trabalho despretensioso mas, acima de tudo, honesto e profundamente de cultura nacional, com vistas às coisas que nos tocam mais de perto, que é a cultura rio-grandense. Neste momento, faço esse retrospecto, mas não é tanto, nem de leve, não me entra este momento como se fosse uma coisa que eu estivesse à frente de uma representatividade. Não. Eu aconselho a bondade do Ver. Elói Guimarães em sintetizar uma geração consciente dos seus destinos. Neste sentido me sinto muito à vontade, muito tranqüilo, perfeitamente consciente de que realmente estou aqui para traduzir um pensamento de uma geração, e dentro dessa geração tenho uma felicidade muito grande de ter junto neste momento, entre muitos companheiros, o Barbosa Lessa, o Antonio Sá Siqueira,  relembrando Celso Campos, João Machado Vieira - saudosa lembrança - Fernando Machado Vieira, Ciro Dutra Ferreira, Celso Dias da Costa e Orlando Jorge Degrazia, que iniciaram aquele primeiro movimento montando a cavalo e indo às ruas conduzindo a Bandeira Rio-Grandense ao lado da Bandeira Nacional e do Colégio Júlio de Castilhos. Recordo-me da emoção daqueles gaúchos que acompanharam os restos mortais, exatamente no momento cívico que foi a Semana da Pátria, acompanhando, cortejando os despojos de David Canabarro, quando nós passávamos - e eu conduzia a Bandeira Rio-Grandense -, víamos manifestações de pessoas idosas, de pessoas mais experientes: "Viva o Rio Grande! É este o Rio Grande!" Pessoas que levavam o lenço aos olhos e choravam! Realmente, nos meus 19 anos não entendi bem o que representava aquele gesto de alta emotividade e de revitalização, de reencontro. Os anos passaram e aí comecei a entender por que as pessoas estavam se manifestando espontaneamente: porque estavam ausentes de Porto Alegre botas, bombachas, cavalos, música, canto, gente, prendas. Nada disso existia e, até mesmo, numa conseqüência posterior da ditadura que acabava de ser encerrada, havia, ainda, alguns resquícios de medo de trazer os símbolos do nosso Estado que - aqui não, mas em outras regiões brasileiras - haviam sido queimados. Mas, mesmo os poderes públicos palidamente colocavam a bandeira do Rio Grande ao lado da Bandeira Nacional. No ato de homenagem aos restos mortais de David Canabarro, em que estava toda a comunidade representativa das forças militares, culturais, sociais, políticas, em que o Governador, os representantes do povo que agora começavam a tomar sua posição, só se cantou o Hino Brasileiro, porque o Hino Rio-Grandense ainda não havia adquirido o seu posicionamento e a importância de ser. O Brasão estava ausente dos papéis timbrados, das oficialidades dos documentos. Este era um Rio Grande que continuava vivo nos galpões, preservando-se na intimidade daqueles que, numa coisa de herança muito pura, muito sentida, guardavam para si. E nós, então, companheiros dessa arrancada, partimos para a pesquisa, a documentação, a revitalização e a amostragem do que era o Rio Grande de ontem. Tínhamos certeza de que íamos consolidar aquela época que hoje vemos encantar, maravilhar, mesmo sem que qualquer futurologista pudesse imaginar que hoje teríamos quatro milhões de pessoas comungando essa idéia, através das entidades regionais. Mas nós estamos aqui, o Lessa está aqui, o Sá Siqueira e tantos outros companheiros estão aqui para testemunhar este momento. De lá para cá seguiu-se uma série de manifestações, de revitalização musical, coreográfica, de artes plásticas, de forma de canto, a revitalização dos compositores, dos cantores, dos letristas, dos vocais, e cada um foi tomando a sua posição, chegando a este momento que estamos vivendo e que é de grande júbilo para nós - companheiros do Movimento Tradicionalista -, que foi o Coral que cantou há pouco cantigas que eu gravei no Rio Grande e que hoje são cantadas em tantos outros lugares. Músicas como o “Negrinho do Pastoreio”, que é de 1948! Quase meio século, ou seja, estamos festejando o cinqüentenário da Chama Crioula, do Candeeiro Crioulo, da primeira Ronda Gaúcha. Meio século! E é uma felicidade muito grande poder participar; é um marco muito grande na vida de qualquer pessoa os 50 anos de vida. O Corrêa, que também está aqui, foi um dos companheiros quando fundamos, em 1948, o CTG 35 - que aqui está representado -, que veio com oito cavaleiros montados para prestar essa distinção que me emociona profundamente. Recordo todas essas coisas e digo que valeu a pena, como jovem, depois já mais adulto, e agora já indo para a casa dos 70 anos, ter o privilégio de ver a revitalização no conjunto os “Tropeiros da Tradição”, na Eliane, na Fátima cantando, nos gaúchos que estão por todas as querências, pelos Centros de Tradição, o “35”, o Movimento Tradicionalista Gaúcho, o Movimento Brasileiro Gaúcho, e ter este privilégio, em vida, de estar aqui contemplando este momento, na Casa do Povo. Uma coisa que sempre foi prioritária em todos os momentos do nascedouro do Movimento Tradicionalista Gaúcho: saímos pelas ruas a cavalo e convivemos com o povo na homenagem a uma figura simbólica magnífica da história rio-grandense e brasileira, que foi Davi Canabarro. Mas foi ao encontro do povo e não contra o povo. É por isso que todas as manifestações que hoje recebemos aqui - e temos tido manifestos de tantos lugares -, nasceu de baixo para cima, nasceu no jovem, nos estudantes e daí foi tomando, conseqüentemente, sucessivamente, posições, em que as pessoas foram se dando conta de que as heranças eram importantes para consolidar os dias futuros e de grandes realizações.

Hoje estou aqui nesta distinção, nesta homenagem. Está aqui representado o Sr. Prefeito Municipal, está aqui o Antônio Augusto Fagundes, companheiro meu, de 58 - saímos daqui, ficamos 5 meses na Europa, cantando e dançando nos principais palcos europeus -, o Bruno, deputado brilhante, que assume, pessoa que sempre admirei pela sua convicção, seus princípios, suas metas, seu trabalho. É cantor simples, singelo, que, hoje, todo o mundo admira e continua atuando junto ao povo, cantando, não se modificou em nada. Ele esteve comigo em Portugal e em tantos outros lugares por este Brasil.

Vejo todas as manifestações aqui presentes, a representação das Forças Armadas, uma das coisas que mais respeitamos e admiramos e nos integramos neste espírito patriótico. Nascemos da Chama Crioula, que tem 50 anos de fraternidade, de luz, de calor humano, de novos horizontes, onde se leva a imagem do vigor de um povo que tem consciência de suas origens. Não foi por acaso que eu subi na Pira da Pátria com o cabo da vassoura embebido em querosene, porque a Liga de Defesa Nacional não tinha um archote para que eu pudesse usar. Mas o ato foi importante: não o meio - o cabo de vassoura -, mas o espírito da nossa idéia, da nossa causa. Passados 50 anos de sua existência está aí, em todos os momentos das competições dos mirins, dessa gente pequena, através das escolas, das universidades, dos grandes centros, das grandes realizações de festivais. Hoje é uma retomada de consciência do povo, querendo buscar mais as suas raízes e aplaudindo aqueles que vivem junto ao povo, transmitindo a sensibilidade da alma, da coisa que fala da terra, daquilo que nossos ancestrais guardaram para que nós tivéssemos esta felicidade, como eu estou tendo aqui, de, junto com meus filhos, com a minha patroa, estar assistindo e tendo o privilégio de ouvir palavras que incentivam, que renovam nossas esperanças e a nossa confiança de que o tempo não foi perdido. De que há muito por fazer, há muita coisa para dar, há muita coisa para acrescentar, fazendo, reverentemente, uma justiça àqueles que desapareceram, que já não estão conosco, que, anonimamente, guardaram esse patrimônio magnífico de cultura, de arte e de história.

Acolho esta distinção que recebo aqui na Capital, porque até bem pouco tempo, até agora, há poucos momentos, através de palavras dos Vereadores, dos ilustres representantes de seus partidos, eu era, simplesmente, um santanense que morava em Porto Alegre, que vivia e convivia em Porto Alegre e com a minha vida ligada à Capital rio-grandense. Mas deste momento em diante, eu me sensibilizo profundamente com o gesto que o Ver. Elói Guimarães teve para com a minha pessoa, colocando-me ao lado de tão ilustres figuras que, realmente, são exponenciais da "mui leal e valerosa"  Porto Alegre. Ele também é do interior, de Santo Antônio da Patrulha. Recentemente estivemos juntos numa festividade; ele foi ver, assistir e esteve ao meu lado, ansioso para conhecer mais as raízes de Santo Antônio da Patrulha. Nós levamos quarenta e quatro anos para reconstituir uma dança que havíamos pesquisado em 1952 e, agora, encontramos, lá em Santo Antônio; realmente, todos os elementos para traduzir, com fidelidade, os aspectos de nosso passado. Neste particular, estavam lá os “Tropeiros da Tradição”, conjunto que fundei em 1953. Há o Moacir, na reconstituição das mudanças atuais do Rio Grande do Sul, que está aqui representado pelas prendas. Vejam os senhores que para a gente que é do interior, para a gente que quer procurar as suas raízes e quer, cada vez mais, enaltecer e reverenciar o passado, é um momento de alegria encontrar na Casa do Povo a representação dos diversos segmentos do nosso ruralismo, na sua espiritualidade, na sua música, no seu canto, na sua roupa, na maneira de ser, na palavra, nas figurações, nas relembranças, pois tudo emociona a gente. Às vezes a gente está tão voltado para dentro de si que não percebe um momento de reencontro com as coisas mais singelas, mais puras, que dizem da vida e da maneira de ser da gente. A identidade com o povo sempre foi uma constante na minha vida e há de ser até os últimos dias. O homem simples do campo está sempre em contato com a natureza e é com ela que ele convive. A sua maneira de sentir, de ver, de olhar, de sentir os aromas, os perfumes, as cores, isso é porque ele se identifica com o Criador.

Meus senhores e minhas senhoras, nunca na minha vida passou pela minha cabeça que em algum dia, em algum momento, eu tivesse o privilégio de ser merecedor de um título da Capital do Rio Grande do Sul e, através da Câmara Municipal, da Casa do Povo, em Porto Alegre, onde sempre lutei pelas coisas do povo e destituído de fontes partidárias ou interesses econômicos pessoais. Mas acima de tudo é muito bom saber que as gerações se renovam, a alma do povo se consolida e as perspectivas são melhores: amanhã o poder mostrará maior paz, alegria e bem-estar social. É nesse sentido que acolho com tranqüilidade a idéia de continuar trabalhando por Porto Alegre, simplesmente como um porto-alegrense. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registro a presença do Sr. Jorge Raupp e do Sr. Sezefredo Machado, que são produtores gráficos e muito têm ajudado o Paixão Cortes nesses produções. Também está presente o Patrão do CTG João de Barro.

Agora vamos ouvir a Sra. Fátima Gimenez cantar o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a todos pela presença, especialmente aos CTGs. Acredito que esta será uma Sessão histórica para a Câmara da Cidade de Porto Alegre. Muito obrigado.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 21h50min.)

 

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